O projeto piloto para busca de indicação geográfica (IG) para o Polo Ervateiro do Alto Taquari foi apresentado na última semana para o Grupo Gestor do IG Erva-mate Região Alto Taquari, na Câmara de Vereadores de Ilópolis. A pesquisadora Larissa Bueno Ambrosini, do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (SEAPI), e a extensionista Bruna Bresolin Roldan, da Emater/RS-Ascar, falaram sobre os objetivos do projeto “Potencial de Indicação Geográfica para a Erva-Mate do Alto Taquari/RS”, o cronograma de execução e a contribuição dos resultados para a documentação necessária para demanda da IG fornecida pelo INPI. 

“O objetivo geral desta pesquisa é investigar e aportar elementos relacionados ao território que singularizam a erva-mate do Polo Ervateiro do Alto Taquari, tendo como metodologia a abordagem multidisciplinar do terroir, que visa à análise do território e do produto em suas dimensões agronômicas, climáticas, históricas e culturais com vistas ao potencial de uma Indicação Geográfica”, destaca Larissa.

O registro da indicação geográfica permite uma valorização do produto e uma garantia para o consumidor, pois comprova que o produto é genuíno daquela região e possui qualidades particulares, ligadas à sua origem. 

“A ideia é ter o reconhecimento daquilo que já possuímos, através de documentos, mostrando que a erva-mate produzida nesta região é diferenciada, seja pelo clima, pelo solo, pelo manejo ou pelas variedades que aqui estão”, destaca o secretário de agricultura de Ilópolis e coordenador do Grupo Gestor, Jurandir Marques. Segundo ele, a região tem um potencial extraordinário para conseguir este registro, tem 73 agroindústrias de erva-mate registradas e concentra 55% dos produtores de erva-mate do estado. “É neste potencial que acreditamos e para o qual estamos trabalhando”, destaca. 

A solicitação da IG vai abranger os municípios de Ilópolis, Arvorezinha, Itapuca, Fontoura Xavier, Anta Gorda, Putinga e Doutor Ricardo, pertencentes ao Polo do Alto Taquari. O trabalho de busca de certificação é desenvolvido em conjunto pelas prefeituras, conselhos municipais, Emater, Sebrae, Ibramate, Sindimate, câmaras de vereadores, produtores rurais, sindicatos, Seapi e Associação dos Amigos e Parceiros da Erva-Mate do Polo do Alto do Vale do Taquari (AA Erva-Mate).

A Associação vai encaminhar o projeto junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), quando estiver pronto. De acordo com o presidente da Associação, Clóvis Roman, as vantagens da IG são inúmeras. “Os benefícios são vários, como manter os agricultores familiares nesta atividade de forma sustentável, além de ganhos no turismo, no comércio, na profissionalização do produtor e da indústria”, avalia. Roman afirma que este selo vai colocar a região do Alto Taquari em evidência dentro do setor no estado, no país e também, futuramente, poderá chegar a outros países.

O projeto-piloto

O trabalho está sendo desenvolvido desde o segundo semestre de 2022 pelos pesquisadores do DDPA/SEAPI das áreas de ciências do solo, agrometeorologia, meteorologia e desenvolvimento rural, em cooperação com as extensionistas da Emater das áreas de tecnologia de alimentos e agronegócios. A execução da proposta conta ainda com o apoio institucional da Secretaria da Agricultura de Ilópolis, sede do Polo Ervateiro Alto Taquari. As atividades devem ser concluídas até julho de 2024, com a divulgação dos resultados.

O trabalho do registro da história do cultivo da erva-mate no território está sendo realizado a partir de pesquisa bibliográfica, complementada com entrevistas com produtores rurais e ervateiros. A equipe esteve em Ilópolis, Arvorezinha, Fontoura Xavier e Itapuca, ouvindo relatos sobre a evolução do cultivo, as transformações da indústria e as perspectivas para o futuro. Complementando o registro de informações e história, estão sendo feitos registros fotográficos das pessoas, paisagem, ervais e indústrias, pelo fotógrafo da Seapi Fernando K. Dias.

Entre os principais resultados, espera-se a caracterização e o registro das condições de clima e solo (edafoclimáticas) do território de produção da erva-mate do Polo Alto Taquari e a descrição e o registro da história da ocupação humana e agrícola no território do Alto Taquari, com ênfase no cultivo da erva-mate. De acordo com a pesquisadora, os resultados poderão embasar um futuro dossier para que associações de produtores de erva-mate possam iniciar um processo de demanda de Indicação Geográfico do Alto Taquari para erva-mate junto ao INPI.

IG

As Indicações Geográficas (IG) têm sido apontadas como possíveis instrumentos de valorização de um produto agropecuário através de elementos de sua história, de características e traços dos grupos humanos envolvidos e de seu território de origem. No Rio Grande do Sul, o caminho para a IG da erva-mate, produto símbolo do estado, seria um estudo de caracterização e viabilidade em cada um dos polos ervateiros. O critério de escolha deste Polo foi a sua abrangência em termos de produção e produtores: o polo concentra mais da metade dos produtores de erva-mate do estado, abrigando 60% da área plantada com a cultura, percentual equivalente a sua participação na produção total de erva-mate do estado. 

A erva-mate

A erva-mate (Ilex paraguariensis St. Hil.) é uma espécie típica das regiões subtropicais e temperadas da América do Sul, sendo encontrada no Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai, ocupando 5% do território nacional e 3% da América do Sul. Sua área de dispersão situa-se em toda a Região Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, estendendo-se ainda ao sul de Mato Grosso do Sul, à província de Misiones na Argentina e ao Leste do Paraguai).